A importância da saúde bucal como parte integrante da assistência ao paciente internado na Unidade de Terapia Intensiva

Introdução

Nas Unidades de Terapia Intensivas (UTIs), diferentes profissionais estão envolvidos nos cuidados do paciente crítico, formando uma equipe interdisciplinar que visa a atenção e assistência integral em saúde.

A promoção de saúde bucal é fundamental para esses pacientes e está diretamente relacionada a complicações sistêmicas como a pneumonia associada à ventilação mecânica, pneumonia nosocomial (adquirida), endocardite bacteriana, problemas renais e outras doenças. Por isso, a necessidade da inserção da prática odontológica capacitada como parte da equipe na UTI.

Pacientes internados em UTIs apresentam predisposição à deficiência de higienização bucal, contribuindo para o acúmulo de biofilme dentário e saburra lingual, principalmente, considerados reservatórios (nichos) microbianos de bactérias gram negativas associados a infecções hospitalares. Essa específica condição pode estar relacionada à falta de capacitação profissional na própria UTI, ausência de uma equipe odontológica participativa no contexto clínico e educacional e a falta de protocolos específicos.

As superfícies dentárias e língua, principalmente, de pacientes hospitalizados, são reservatórios microbianos de alta complexidade, o que faz com que a secreção salivar se torne extremamente patogênica. Pacientes debilitados se encontram, geralmente, com os reflexos prejudicados, o que os predispõe à aspiração, tornando a boca a principal porta de entrada para microrganismos prejudiciais à saúde sistêmica.

As ações de promoção de saúde bucal na UTI necessitam de correto manejo e adaptação profissional nas atividades propostas, sempre respeitando a individualidade e condição sistêmica do paciente. Os planejamentos devem ser interdisciplinares, respeitando a decisão médica, da equipe e familiar nas decisões clínicas.

A assistência em saúde bucal deve ter a responsabilidade ética e legal, por meio do consentimento livre e esclarecido, decisão familiar e do paciente, quando possível. O correto registro em prontuário e discussão do plano de tratamento preventivo e ou invasivo devem ser priorizados.

A educação em saúde e cursos direcionados ao preparo profissional da equipe que atua na UTI são primordiais para o sucesso dessa específica conduta em saúde e rotina diária. O sistema hospitalar necessita de maior entendimento e benefícios da presença do cirurgião dentista efetivamente no sistema hospitalar.

A falta de conhecimento profissional sobre a relação da saúde bucal com a sistêmica, e vice-versa, ainda, nos dias atuais, é uma grande situação de formação técnica e clínica a ser modificada em todo o sistema hospitalar, principalmente nas Unidades de Terapia Intensiva.

Atividades odontológicas preventivas são necessárias, porém existem pacientes que apresentam problemas bucais que podem estar relacionados a processos inflamatórios, infecciosos e de dor durante a internação na UTI em que, apenas o cirurgião dentista pode executar as condutas clínicas, pois são referentes à capacitação e formação profissional. Como por exemplo, anestesias odontológicas, extrações dentárias, raspagem supragengival (eliminação de cálculos sub e supragengival), ajustes de próteses dentárias, traumas de aparelhos ortodônticos, laserterapia e biópsias de lesões na cavidade bucal.

Uma estratégia de planejamento e execução clínica é a ¨Full Mouth Desinfecction¨ em que todas as necessidades odontológicas do paciente são realizadas em sessão única, sob uma óptica de adequação do meio bucal. Essa específica estratégia deve ser muito bem organizada com a equipe profissional na UTI, avaliação sistêmica, medicamentosa e de prioridades clínicas do paciente para que as condutas sejam feitas com segurança e sem prejuízos aos pacientes. Em muitos casos, a sedação intravenosa pode ser uma alternativa associada ao tratamento odontológico realizado na UTI.

Conclusões

A influência da condição de saúde bucal na sistêmica, e vice-versa, evidencia a necessidade da participação do cirurgião dentista como parte integrante da equipe interdisciplinar nas Unidades de Terapia Intensiva.

A higiene bucal deficiente, falta de condutas clínicas odontológicas, manejo e adaptação profissional, além da negligência da saúde bucal por parte dos próprios pacientes e profissionais da saúde representam riscos para a saúde sistêmica.

A atuação do cirurgião dentista capacitado nas Unidades de Terapia Intensiva poder ser fundamental na promoção de saúde e qualidade de vida do paciente crítico, além da diferenciação na assistência hospitalar prestada.

1. Leitura Sugerida:

Miranda, Alexandre Franco. Saúde bucal na UTI: necessidade de capacitação profissional e implementação. 1 ed. Paco Editorial: São Paulo. 2017.148p.

Alexandre Franco Miranda – PhD, MSc, DDS

Pós- Doc em Odontologia Social (FOUSP) e Odontologia(SL Mandic)